Humanidade abriu 'as portas do inferno' com crise climática, diz chefe da ONU
A crise climática provocada pelas atividades humanas "abriu as portas do inferno", afirmou, nesta quarta-feira (20), o secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da Cúpula da Ambição Climática, da qual se ausentaram Estados Unidos e China, os dois países mais poluentes do planeta.
Secas, inundações, temperaturas sufocantes, incêndios históricos. "A humanidade abriu as portas do inferno", como demonstraram os "horríveis efeitos do terrível calor", disse Guterres nesta reunião, cujos participantes são os melhores alunos da luta contra as mudanças climáticas.
Apesar da multiplicação e da intensificação dos fenômenos climáticos extremos, as emissões de gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento continuam aumentando e o setor da energia fóssil segue gerando recordes de lucros.
O futuro "não está decidido, cabe a líderes como vocês escrevê-lo", alfinetou Guterres, que acredita que "ainda podemos limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C e construir um mundo de ar limpo, empregos verdes e energia limpa e acessível para todos".
Caso não haja mudanças, o planeta se dirige para um aumento da temperatura de 2,8°C, alertou.
"Devemos recuperar o tempo perdido por causa da lentidão, das pressões e da ganância dos interesses arraigados que ganham bilhões com os combustíveis fósseis", disse ele.
Anunciada poucas horas antes deste encontro de "senso comum", entre os trinta países participantes não estão nem os Estados Unidos, embora Joe Biden esteja em Nova York, onde no dia anterior falou na Assembleia Geral, nem a China, cujo presidente é uma das grandes ausências da cúpula nova-iorquina.
Outra ausência notável é a do Reino Unido, cujo primeiro-ministro, Rishi Sunak - também ausente em Nova York -, sugeriu na terça-feira que poderia revisar seu objetivo de alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
No entanto, a União Europeia foi convidada a expor suas políticas climáticas, assim como Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, Canadá e África do Sul, além de muitos países que estão na vanguarda contra o impacto do aquecimento, como Barbados, Samoa e Tuvalu.
O secretário-geral também convidou outros atores como o governador da Califórnia e a prefeitura de Londres.
"Não haverá lugar para o retrocesso, para a eco-hipocrisia, para a evasão de responsabilidades, ou para o reempacotamento de anúncios de anos anteriores", advertiu, ao anunciar esta reunião no final de dezembro.
- "Correção" -
"Talvez seja uma boa notícia que Biden não tenha um espaço na agenda para falar na cúpula", comentou Catherine Abreu, da ONG Destination Zero, apontando o dedo para os planos de expansão dos combustíveis fósseis dos Estados Unidos.
"Trata-se de uma correção em relação a cúpulas anteriores, nas quais os líderes tiveram a oportunidade de tomarem para si a liderança climática no cenário internacional, enquanto perseguiam planos de expansão dos combustíveis fósseis que estão alimentando a crise climática em casa", acrescentou.
A cúpula é a reunião climática mais importante nos Estados Unidos desde 2019, quando a ativista sueca Greta Thunberg disparou seu famoso "Como se atrevem!" aos líderes mundiais.
O cansaço entre os ativistas do clima está aumentando, sobretudo entre os jovens, que no último fim de semana voltaram a tomar as ruas de Nova York em uma manifestação contra os combustíveis fósseis.
Os observadores esperam com impaciência pelo discurso dos líderes do Canadá e da União Europeia, em particular, sobre suas próprias ambições, mas também sobre seus compromissos financeiros para ajudar os países mais vulneráveis a enfrentar o aquecimento global, pelo qual são os menos responsáveis.
O descumprimento dos países ricos em suas promessas de ajuda aos países em desenvolvimento é um tema especialmente delicado nas negociações internacionais sobre o clima.
É uma controvérsia que sem dúvida voltará a estar na ordem do dia da COP28 dentro de algumas semanas. Entre as boas notícias está a de que a Colômbia, que participará da cúpula de quarta-feira, e o Panamá se uniram na terça-feira à aliança de países comprometidos com a eliminação progressiva do carvão.
G.Alamilla--ESF