Assassinato de sindicalistas, um 'fenômeno' antigo na América Latina, diz especialista
A América Latina concentrou 18 dos 19 homicídios de sindicalistas registrados em todo o mundo entre abril de 2022 e março de 2023, segundo o índice mundial de direitos da Confederação Sindical Internacional (CSI), que será publicado nesta sexta-feira (30).
Em entrevista à AFP, o especialista em América Latina da CSI, Alex Praça, se diz alarmado com a situação na Colômbia e na Guatemala, embora constate "avanços" no Chile e no Brasil.
"Ficamos muito otimistas quando o novo governo [de Luiz Inácio Lula da Silva] foi empossado no Brasil [em janeiro de 2023]", diz Praça.
Pergunta: Esta violência dirigida aos sindicalistas é nova na América Latina?
Resposta: "É um fenômeno documentado há muitos anos. Embora ocorra em outros países, a maioria dos assassinatos ocorre na Colômbia e na Guatemala. Também são registrados, mas em menor número, em Honduras, El Salvador e Venezuela".
"Ao contrário, há uma diferença notável entre o Uruguai e o resto do continente. O país tem uma cultura de escuta de diferentes pontos de vista e construção de consensos. Houve alguns retrocessos, mas sempre consideramos o Uruguai um modelo que muitos países da região deveriam seguir".
P: Por que tanta violência na Colômbia?
R: "Não sabemos por que o governo colombiano não tem tomado as medidas adequadas para identificar os autores dos crimes. Então, nós só podemos nos basear nas atividades das vítimas antes das ameaças ou dos assassinatos. A taxa de impunidade chega a 98% na Colômbia: em 98% dos casos, não há investigação ou só são feitas investigações muito superficiais".
"Há duas grandes tendências [nos assassinatos de sindicalistas]. Por um lado, quando os sindicalistas organizam os trabalhadores em uma empresa e preparam greves ou negociações coletivas, recebem ameaças de morte e, por fim, são assassinados".
"Por outro lado, no setor público, é muito comum na Colômbia e na Guatemala que, quando os líderes sindicais têm acesso a informações, por exemplo, sobre a corrupção nos hospitais, recebem ameaças de morte e muitos são assassinados".
P: Na Guatemala ou em outras partes do continente, a alternância política pode melhorar a situação dos sindicalistas?
R: "Ninguém esperava os resultados na Guatemala, especialmente os do candidato que ficou em segundo lugar [Bernardo Arévalo]. [Arévalo] combateu a corrupção e a impunidade no passado e se comprometeu a fazer investigações. A maioria das investigações na Guatemala não deu em nada, particularmente por causa do poder atual. Esperamos que [Arévalo] cumpra suas promessas".
O segundo turno das eleições presidenciais na Guatemala será celebrado em 20 de agosto entre os social-democratas Bernardo Arévalo e Sandra Torres.
"Nós ficamos muito otimistas quando o novo governo [de Luiz Inácio Lula da Silva] foi empossado no Brasil [em janeiro de 2023]. A maioria dos temas que preocupam os trabalhadores não foram abordados ainda, mas pelo menos foi iniciado o processo, no qual os trabalhadores são consultados".
"No Chile, a ministra do Trabalho, Jeannette Jara Roman, enfrentou grandes desafios, como a reforma do sistema da Previdência", pois "a seguridade social estava completamente privatizada desde a ditadura de Pinochet. Isso sempre foi um tabu no Chile, embora a taxa de pobreza entre os aposentados seja uma das mais altas da região! Mas houve avanços".
H.Alejo--ESF