Equador enfrenta apagões de até 13 horas por dia devido a seca
A população do Equador enfrentou nesta quinta-feira (18) apagões de até 13 horas devido à crise hidrelétrica causada por uma seca histórica que afeta os reservatórios desde o mês passado.
“Vemos desde março anomalias negativas em termos de precipitação. Esta falta de chuva já vinha ocorrendo nas últimas semanas”, observou Romel Suntaxi, especialista do Instituto Nacional de Meteorologia e Hidrologia (Inamhi).
A seca já era evidente em outubro, quando o então ministro da Energia, Fernando Santos, ordenou um racionamento de até quatro horas diárias.
"Fiquei sem luz ontem de 8h às 11h. Hoje, com oito horas, vai ser pior, isso nos afeta muito" diz Segundo Guacho, 45, dono de uma loja de aluguel de computadores no centro de Quito. Ele conta que perdeu em três dias cerca de 200 dólares (pouco mais de R$ 1000,00) por causa do corte no serviço.
Os reservatórios registram níveis de armazenamento alarmantes, às vésperas da celebração de um referendo vinculante sobre as medidas que o presidente Daniel Noboa propõe para combater a crescente violência ligada ao narcotráfico.
O movimento nas grandes estações de transporte urbano de Quito era o usual, apesar do pedido do governo. Os ônibus partiam para vários pontos da capital contornando a falta de semáforos em alguns bairros, onde o serviço elétrico estava suspenso desde as 7h locais.
Os cortes começaram no último domingo, por períodos curtos, e foram se alongando com o passar dos dias.
- Sacrifício -
O Executivo suspendeu nesta quinta e sexta-feira o dia de trabalho nos setores público e privado, bem como as aulas, após anunciar que as barragens Mazar (a mais importante) e Paute, ambos no sul andino, estão em "condições críticas" registando níveis de armazenamento de 0% e 4%, respectivamente.
O nível na maior usina hidrelétrica, a Coca Codo Sinclair, com capacidade para gerar 1.500 MW de potência para cobrir cerca de 30% da demanda nacional, caiu para 60% da média histórica.
O governo afirmou que no próximo domingo, quando 13,6 milhões de equatorianos irão às urnas, "não haverá apagões". O principal eixo da consulta é o combate ao crime organizado que sangra o país.
"Grande parte do sacrifício que os equatorianos estamos fazendo hoje e no dia de amanhã e sábado é para (...) garantir que as eleições aconteçam porque o que está em jogo na consulta é a segurança nacional", disse nesta quinta-feira o secretário de Comunicação, Roberto Izurieta, canal Teleamazonas.
Noboa declarou na última terça-feira emergência no setor elétrico e pediu a renúncia da então ministra da Energia, Andrea Arrobo, depois dos cortes intempestivos que começaram no domingo. Além disso, denunciou uma "sabotagem" na área elétrica como uma das causas dos cortes, bem como os efeitos do aquecimento global.
Os alertas sobre a crise energética "não se deram a tempo", queixou-se Izurieta. O governo considera isso uma "investida" de seus inimigos políticos antes da consulta popular com a qual busca dar, por exemplo, sinal verde para a extradição de cidadãos e aumentar as penas por delitos ligados ao crime organizado.
Segundo Izurieta, o Equador teve "uma política energética nos últimos 20 anos que não se adaptou às crises climáticas".
Ao problema hídrico no Equador acrescentou-se que a Colômbia deixou de lhe vender energia como medida para lidar com a grave seca associada ao fenômeno El Niño, que deixou os reservatórios colombianos abaixo dos 30% de sua capacidade.
R.Salamanca--ESF