AIE teme 'tensões' no fornecimento de metais para a transição energética
A Agência Internacional de Energia (AIE) alertou para possíveis "tensões" no fornecimento mundial de minerais e metais críticos para a transição energética e apelou a um aumento dos investimentos neste setor.
"A queda dos preços de minerais críticos" como o cobre, o lítio e o níquel, utilizados para transmitir eletricidade ou nas baterias de veículos elétricos, centrais eólicas e painéis solares, "esconde o risco de futuras tensões no fornecimento", disse a AIE em seu segundo relatório anual do setor publicado nesta sexta-feira(17).
A agência estima em "800 bilhões de dólares" o total de investimentos necessários até 2040 para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC em relação à era pré-industrial, meta definida no Acordo de Paris de 2015.
A desvalorização das matérias-primas, que reduziu os preços das baterias em cerca de 14%, também pode frear os investimentos em mineração.
Em 2023, o preço do lítio caiu 75%, já o níquel, cobalto e grafite caíram entre 30 e 45%.
Em volume, os metais com maior risco de sofrer "tensões" no fornecimento são o lítio e o cobre, que apresentam "uma lacuna significativa" entre as perspectivas de produção e consumo, segundo o relatório.
A necessidade desses materiais aumenta. Em 2023, as vendas de veículos elétricos subiram 35% e a instalação de painéis solares e energia eólica aumentaram 75%.
Os eletrolisadores que produzem o hidrogênio verde necessário para descarbonizar a indústria de base e para os transportes requerem metais como níquel, platina ou zircão. O crescimento dessas instalações em 2023 foi de 360%, segundo o relatório.
A AIE alerta também para a necessidade de diversificar o abastecimento para enfrentar a hegemonia da China, especialmente na fabricação de dois componentes-chave das baterias automotivas: ânodos (98% da produção) e cátodos (90%).
"Mais da metade do processo de fabricação de lítio e cobalto passa pela China. E o país domina completamente a cadeia produtiva do grafite", também utilizado em baterias e na indústria nuclear, afirma.
- Riscos sociais e ambientais -
Porém, a exploração de minas representa riscos sociais e ambientais para as comunidades vizinhas, alertam ONGs.
"Se continuarmos neste ritmo, corremos o risco de nos depararmos com a destruição da natureza, da biodiversidade e dos direitos humanos" em uma economia descarbonizada, livre de petróleo, gás e carvão, disse à imprensa Galina Angarova, representante da tribo siberiana buryat e que lidera um grupo de defesa dos direitos dos povos indígenas.
Adam Anthony, da ONG Publish What Your Pay e que atua na Tanzânia, aponta outro problema: na África, por exemplo, a exploração das mineradoras não proporciona qualquer valor às populações locais.
"Quando falamos de minerais críticos, temos que nos perguntar: para quem eles são críticos?", enfatiza Anthony.
"Não recebemos nenhum benefício dessa extração".
L.Balcazar--ESF