El Siglo Futuro - Crise imobiliária: uma frente complexa para o governo espanhol

Madrid -
Crise imobiliária: uma frente complexa para o governo espanhol
Crise imobiliária: uma frente complexa para o governo espanhol / foto: © AFP

Crise imobiliária: uma frente complexa para o governo espanhol

A crise imobiliária da Espanha, onde a oferta de apartamentos é insuficiente e os aluguéis estão disparados, coloca sob pressão o governo do socialista Pedro Sánchez que, apesar de fazer essa questão uma de suas prioridades, não consegue obter resultados.

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"Encontrar um aluguel na Espanha virou uma corrida de obstáculos (...), principalmente para os jovens", explica à AFP Juan Lozano, um jovem de 24 anos de Madri. "Quase não tem oferta, e quando tem, os preços estão lá no alto", acrescenta.

Junto de outras 22 mil pessoas, segundo as autoridades, o estudante foi para a manifestação no último domingo, em Madri, seguindo o apelo de cerca de quarenta associações que exigiam soluções para o aumento dos preços das moradias e ameaçavam os proprietários com uma “greve de aluguel”.

"Essa questão das moradias é um problema antigo na Espanha", onde a memória do estouro da bolha imobiliária em 2008 ainda está viva, mas "desde a crise da Covid, ela se tornou insustentável", insiste Juan Lozano.

Segundo o portal imobiliário Idealista, o preço do metro quadrado do aluguel aumentou 82% durante os últimos dez anos no país. O ritmo é cinco vezes maior em relação ao aumento do salário mínimo, que cresceu 17%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Para as famílias mais pobres, encontrar um lugar para morar tornou-se uma missão impossível, pois as moradias sociais são escassas na Espanha, com apenas 2,5% do total, em comparação com a média da UE de 9,3%.

- Aluguéis "sufocantes" -

“Os aluguéis estão nos sufocando todos os meses e ninguém faz nada (...). A maioria da sociedade vem pagando pela crise habitacional há muito tempo, enquanto uma minoria [de proprietários] está enriquecendo às custas de seu trabalho”, denuncia o Sindicato dos Inquilinos.

De acordo com as Comisiones Obreras (CCOO), “o acesso à moradia se tornou uma quimera para grande parte da sociedade”, que pede ao Estado que "garanta o direito constitucional à moradia digna e adequada".

Para o presidente do Governo, que fez da defesa das classes trabalhadoras uma prioridade desde que chegou ao poder há seis anos, a questão é espinhosa, além de ser uma fonte de tensão com seus aliados da esquerda radical no Parlamento.

Em maio de 2023, o Executivo aprovou uma lei que previa a construção de mais moradias sociais, a restrição dos aluguéis em áreas de risco e encargos para proprietários que mantiverem as residências desocupadas.

No entanto, a nova legislação, até o momento, não conseguiu limitar o aumento dos aluguéis, que aumentaram 10,2% no terceiro trimestre em relação ao ano anterior, atingindo picos de 15% em grandes cidades como Valência e Madri.

O aumento provocou a impaciência da população, enquanto o governo mantém um cabo de guerra com várias regiões - as principais responsáveis por sua implementação - para que a apliquem, 18 meses após sua aprovação.

- Sem varinhas mágicas -

"A situação é difícil", mas "o problema da moradia não é resolvido com varinhas mágicas", argumentou Pedro Sánchez nesta segunda-feira (14), lembrando que seu governo "multiplicou por oito" os recursos dedicados à habitação em seis anos.

"Eu não quero uma Espanha com proprietários ricos e inquilinos pobres. Por isso, meu governo estabeleceu como prioridade absoluta essa questão", continuou o presidente, que anunciou o auxílio de 200 milhões de euros (1,2 bilhão de reais na cotação atual) para jovens alugarem um lugar para morar.

Há nove meses, o Executivo anunciou o fim da concessão dos “vistos gold”, que ofereciam residência a estrangeiros que investissem mais de meio milhão de euros em imóveis, considerados um incentivo à especulação.

Somado a isso, houve o comprometimento de lutar contra a proliferação de apartamentos turísticos, que reduzem a quantidade de moradia disponível no mercado, e também acelerar o início das construções de novas moradias.

De acordo com o Banco da Espanha, são necessárias cerca de 600 mil moradias até o final de 2025 para atender à necessidade da população. A cada ano, no entanto, são construídas menos de 100 mil moradias, segundo a mesma instituição.

"Recebemos promessas durante anos", no entanto com "poucos resultados", opina Laura Barrio, do coletivo "Stop Desahucios". "Agora temos que agir” com "reformas estruturais" para corrigir o problema "na raiz", insiste.

F.González--ESF