Aliados da Ucrânia denunciam 'cinismo' da Rússia à ONU
Os aliados da Ucrânia denunciaram, nesta segunda-feira (24), o "cinismo" da Rússia em uma reunião presidida pelo chanceler Sergei Lavrov no Conselho de Segurança e convocada para defender o multilateralismo.
A Rússia, na presidência rotativa deste fórum que tem como missão garantir a segurança e a paz no mundo, convocou a reunião para analisar, além do multilateralismo, a Carta da ONU, que diz defender, o que muitos países consideraram como um deboche de Moscou.
"Com a organização deste debate, a Rússia se apresenta como defensora da Carta da ONU e do multilateralismo, mas não pode estar mais longe da verdade. É cínico", disse o representante da União Europeia, Olof Skookg, antes da reunião, em uma declaração conjunta em nome de seus 27 membros.
"A Carta das Nações Unidas, a Assembleia Geral das Nações Unidas, a CIJ, o TPI: olhe para onde olhar, a Rússia está em desacato", disse o embaixador Olof Skoog, que destacou que, se a Rússia está preocupada com o mutilateralismo, o primeiro a fazer é retirar-se das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, indicou que a invasão russa não é "autodefesa". "A Rússia simplesmente quer redesenhar as fronteiras internacionais à força, em violação à Carta das Nações Unidas", o que vai "contra o que defende esta instituição", afirmou.
"Isto não diz respeito à Ucrânia ou à Europa. Diz respeito a todos. Porque hoje é a Ucrânia. Mas amanhã pode ser outro país", disse, antes de se peguntar se a resposta do Conselho de Segurança deveria ser "cruzar os braços".
Ante a impossibilidade de fazê-lo no Conselho devido ao veto da Rússia, um dos cinco membros permanentes, junto com a China, Estados Unidos, França e Reino Unido, a Assembleia Geral da ONU pediu a retirada "imediata" das tropas russas de solo ucraniano.
- "Devastação" -
O secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou ao chanceler russo a "devastação e o sofrimento" da população ucraniana e do mundo gerado pela "invasão" russa, que "viola" a Carta das Nações Unidas e o direito internacional.
Lavrov atribuiu a "profunda crise" pela qual atravessa o sistema das Nações Unidas ao "desejo de alguns membros (...) de substituir o direito internacional e a Carta das Nações Unidas por uma certa ordem baseada em normas".
"Nem tudo gira em torno da Ucrânia. Trata-se de como vão se configurar as relações internacionais através do estabelecimento de um consenso sólido sobre a base do equilíbrio de interesses ou através do avanço agressivo e volátil da hegemonia de Washington", disse em uma longa mensagem vitimista.
Guterres lembrou, em particular aos países com assento permanente no Conselho, a responsabilidade especial de fazer o multilateralismo funcionar, em vez de contribuir para o seu desmembramento", e advertiu para os "riscos do conflito" por "infortúnio ou erro de cálculo".
"Devemos encontrar uma maneira de avançar e agir agora, como fizemos antes, para conter o declínio ao caos e o conflito", disse ele, antes de acrescentar que "é hora de aprofundar a cooperação e fortalecer as instituições multilaterais, para encontrar soluções comuns para desafios comuns".
- Reforma -
A maioria dos países tem aproveitado suas intervenções para pedir a reforma de um sistema criado em 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial, para que "reflita a realidade geopolítica atual".
O representante adjunto do Brasil, João Genésio, recordou que a composição atual do Conselho de Segurança "não é compatível com as realidades geopolíticas atuais".
"Nem África, nem América Latina, nem Caribe estão representados na categoria de países permanentes, o que resulta na "crescente ilegitimidade" deste fórum para "tomar decisões sobre a agenda para a paz e segurança", assegurou.
M.Ortega--ESF