Russos na fronteira com a Ucrânia estão resignados com as incursões
A princípio, Marina Saprykina cogitou fugir de Belgorod, cidade russa na fronteira com a Ucrânia. Mas, apesar dos frequentes bombardeios e da recente incursão de combatentes na cidade, decidiu ficar. "Estamos acostumados com isso", contou.
A região de Belgorod, na Rússia, foi palco na segunda-feira da maior incursão de homens armados da Ucrânia desde o início da ofensiva russa em 24 de fevereiro de 2022.
A operação incluiu bombardeios e ataques de drones, e ilustrou as dificuldades de Moscou em proteger sua fronteira.
Os moradores de várias cidades fronteiriças fugiram à medida que a violência aumentava. Tanto o exército russo quanto as forças de segurança russas afirmaram ter repelido os combatentes na terça-feira.
Mas na capital regional de mesmo nome, a cerca de 40 km da fronteira, o clima era mais de resignação, apesar da queda frequente de projéteis e drones durante dois meses.
"As informações são realmente preocupantes", disse Saprykina à AFP. Os bombardeios "acontecem diariamente, nós os ouvimos. Mas mesmo que sejam assustadores, estamos acostumados", acrescenta esta diretora comercial de 34 anos.
No centro da cidade, os habitantes passeiam tranquilamente. Eles também vão a shoppings para fazer suas compras.
Rimma Malieva, uma professora aposentada de 84 anos, se preocupa principalmente com seu cachorro, que sofre ataques de pânico quando helicópteros militares sobrevoam sua casa ou quando ocorrem explosões.
“Ele corre para todo lado, sem saber para onde ir. Os cachorros têm medo de barulhos altos, principalmente quando a defesa antiaérea [russa] é ativada. Quem tem mais medo é ele”, disse.
- "Confiança" -
Galina, uma aposentada de 74 anos, está surpresa com o fato de dezenas de combatentes terem conseguido entrar na Rússia vindos da Ucrânia.
“É estranho, normalmente são pequenos grupos que se infiltram. Mas lá era um grupo muito grande”, disse. "Não importa. Eles foram repelidos", continuou.
Assim como Galina, a maioria dos moradores entrevistados pela AFP afirma confiar nas autoridades para solucionar as falhas reveladas pela incursão.
Os ucranianos "não são idiotas, eles testam [a fronteira] permanentemente", disse Yevgeny Cheikin, um pedreiro de 41 anos.
O ataque foi "provavelmente algum tipo de teste. E parece que houve uma falha" no dispositivo russo. "Será feito um trabalho sério" para reforçar a segurança, diz ele.
Enquanto isso, ele garante que não pretende deixar a região. Diz ainda que está disposto a "defender" a cidade, se necessário.
M.F.Ortiz--ESF