Trabalhar até o final: a vida difícil de quem nunca se aposentou na Colômbia
Quando criança cuidava de gado, depois limpou casas e aos 68 anos Miriam Calderón trabalha como recicladora informal. Mas uma reforma previdenciária na Colômbia entusiasma aqueles que, como ela, ficaram sem aposentadoria.
A mulher carrega sacos de lixo pelas ruas de Bogotá para manter a casa que divide com o marido doente de 85 anos, Francisco de Paula López.
Cansada, admite que há algumas semanas enfrentou um dilema: "não sabia se pagava aluguel ou comia", disse à AFP.
Com uma das taxas de informalidade mais altas da América Latina (56%), a Colômbia abriga cerca de 2,6 milhões de idosos que vivem sem aposentadoria e na pobreza, segundo o Ministério do Trabalho.
Para saldar esta "dívida", o presidente Gustavo Petro impulsiona uma reforma previdenciária que aumenta os subsídios mensais aos idosos mais pobres de 30 para 55 dólares(166 para 305 reais).
O valor ainda está longe do salário mínimo (250 dólares ou 1.390 reais), mas coloca este segmento vulnerável da população acima da linha da pobreza extrema.
Dentro de um ano, o benefício será ampliado às mulheres com mais de 57 anos e aos homens com mais de 62 anos, a menos que a oposição de direita tenha sucesso em suas tentativas de revogar a lei.
- "Hoje não vou trabalhar"-
Deyanira Cruz, de 65 anos, assim como Miriam, tem poucos dias de folga.
"Quando comecei a trabalhar era uma menina. (...) Tinha 10 anos mas cuidava de dois filhos pequenos" dos seus patrões, lembra Cruz em Soacha, moradora de Bogotá.
Ele não tinha contrato de trabalho e às vezes recebia menos que o salário mínimo, explica Deyanira. "Muitas não recebiam salário, apenas comida e abrigo. Encontrei boas famílias", diz.
Ela também já vendeu comida na rua e foi mensageira em uma loja de materiais de construção. Tudo isso criando dois filhos sozinha.
Quando atingiu a idade para se aposentar (57 anos), só tinha sete anos de trabalho registrados no sistema previdenciário.
Sem direito a aposentadoria, o Estado paga cerca de 30 dólares por mês, que contribui para as contas apertadas de uma família sustentada pelo salário da sua filha Paola, que é vigilante.
"Continuo dando tudo de mim, trabalhando se me derem uma diária" limpando casas, explica Deyanira, que também será beneficiada pela reforma a partir de 2025.
"É uma contribuição muito grande. De repente você diz: 'Não vou trabalhar hoje' se eu conseguisse mais 100 mil pesos (138 reais)", entusiasma-se.
- Demandas -
No sistema atual, a maioria dos trabalhadores contribui para a sua própria aposentadoria em contas individuais administradas por fundos privados.
A reforma, que entrará em vigor dentro de um ano, exige que os primeiros 2,3 salários mínimos sejam depositados em um fundo público. Desta forma, o governo financiará o aumento dos subsídios para milhões de idosos.
Vários parlamentares de direita tentam interromper o projeto, alegando defeitos em sua tramitação.
Especialistas concordam que a iniciativa está no caminho certo, embora indiquem que para torná-la sustentável será necessário aumentar a idade de reforma, que para os homens é de 62 anos.
Para seus críticos, as contribuições obrigatórias para o sistema público são um "confisco de poupanças" e reduzirão as aposentadorias dos empregados formais.
D.Serrano--ESF