Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos gera controvérsia política na França
"Orgulho" e um "tapa nos obscurantistas" para a esquerda, "vergonha" e um "ataque à cultura francesa" para alguns setores da direita e da extrema direita: a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, na sexta-feira (26), gerou reações diversas entre a classe política na França.
Um dos pontos polêmicos foi a apresentação de Aya Nakamura, cantora francesa de origem malinense criticada pela extrema direita nos últimos meses, que se apresentou ao lado da solene Guarda Republicana.
Outro momento que gerou controvérsia foi a presença de 'drag queens' em uma encenação que recordava a última ceia de Jesus Cristo com seus apóstolos. Sobre a mesa, o cantor Philippe Katerine apareceu pintado de azul e quase nu, com ares de Dionísio.
Um desfile de moda contou com a participação da modelo trans Raya Martigny, e trilha musical da DJ e ativista feminista e lésbica Barbara Butch.
"Que orgulho quando a França fala com o mundo!", reagiu neste sábado (27) na rede social X o coordenador do partido França Insubmissa (LFI, esquerda radical) Manuel Bompard, enquanto o líder do Partido Socialista, Oliver Faure, comemorou a celebração dos "valores de liberdade, igualdade e fraternidade a que se somaram a sororidade, paridade e inclusão".
"É a melhor resposta à ascensão do fascismo e da extrema direita (...) Que tapa na cara dos obscurantistas", comentou a ambientalista Sandrine Rousseau.
O governo francês replicou um vídeo da atuação de Nakamura com elogios: "Diga-me um dueto melhor, vou esperar", comemorou o primeiro-ministro Gabriel Attal, aludindo à cantora e à Guarda Republicana.
- "Ataque à cultura francesa" -
A senadora do Republicanos (LR, direita) Valérie Boyer denunciou "uma visão da nossa história (...) que procura ridicularizar os cristãos", em aparente alusão à cena de Philippe Katerine com as 'drag queens'.
Seu colega de partido Xavier Bertrand, presidente da região de Hauts-de-France (norte), considerou, no entanto, que a cerimônia foi "magnífica".
"Que vergonha (...) A abertura dos Jogos Olímpicos é um ataque à cultura francesa", denunciou Julien Odoul, porta-voz do Reagrupamento Nacional (RN, extrema direita).
A conferência episcopal da França também se somou às críticas, afirmando que a cerimônia "zombou" do cristianismo. Contudo, ressaltou "momentos maravilhosos de beleza e alegria, ricos em emoções e universalmente reconhecidos".
A eurodeputada de extrema direita Marion Maréchal declarou que "não é a França que fala, mas uma minoria de esquerda pronta para todas as provocações".
Sua tia e líder do RN, Marine Le Pen, declarou há alguns meses que a possível presença de Aya Nakamura no evento era uma tentativa do presidente Emmanuel Macron de "humilhar o povo francês", e não comentou sobre a cerimônia.
Neste sábado, desejou "boa sorte" aos atletas franceses para que "deixem as cores da França em alta e o povo francês orgulhoso".
A cerimônia de abertura foi acompanhada por 22 milhões de espectadores na televisão pública France 2, com um pico de audiência de 81,5%, de acordo com o sistema de medição Mediametrie.
F.González--ESF