Hamas rejeita 'novas condições' de proposta de cessar-fogo em Gaz
O Hamas rejeitou nesta sexta-feira (16) as "novas condições" da proposta de trégua na Faixa de Gaza apresentada pelos Estados Unidos, após dois dias de negociações no Catar, das quais o movimento islamista palestino não participou.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao apresentar a proposta, afirmou que o acordo estava "mais próximo do que nunca" e advertiu que nenhum ator na região "deveria tomar ações para minar esse processo".
Após mais de dez meses de guerra entre Israel e Hamas em Gaza, os países mediadores no conflito (Catar, Egito e Estados Unidos) organizaram novas negociações em Doha para fechar um acordo que, ao mesmo tempo, afastasse a possibilidade de uma escalada do conflito com o Irã e seus aliados regionais.
No entanto, o Hamas, que governa Gaza desde 2007, rejeitou o que considerou "novas condições" de Israel incluídas na proposta, segundo dois dirigentes do grupo que pediram anonimato.
"Não aceitaremos nada que não seja um cessar-fogo completo, uma retirada total das tropas israelenses da Faixa, o retorno dos deslocados e um acordo de troca" de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, declarou uma das fontes.
O movimento palestino exige a aplicação do plano original de três fases anunciado por Biden no final de maio. A primeira fase prevê seis semanas de trégua e a retirada das tropas israelenses das áreas densamente povoadas de Gaza, além de uma troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.
A "proposta de compromisso", que segundo a Casa Branca foi apresentada pelos Estados Unidos e apoiada por Catar e Egito, propõe, no entanto, manter tropas israelenses na Faixa de Gaza ao longo da fronteira com o Egito, afirmou um dos dirigentes do Hamas.
Uma fonte a par das conversações disse à AFP que o Hamas também se opõe a conceder a Israel o direito de vetar a libertação de certos prisioneiros palestinos e de impedir que eles retornem a Gaza.
- Pressão internacional -
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, instou os mediadores a exercerem "pressão" sobre o Hamas para que aceitem "os princípios" do plano apresentado por Biden.
As conversações, que também buscam evitar uma escalada militar no Oriente Médio, serão retomadas na próxima semana no Cairo, indicou a Casa Branca.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, viajará no fim de semana para Israel para apoiar os esforços visando a uma trégua em Gaza.
A comunidade internacional intensificou nas últimas semanas sua pressão, considerando que uma trégua em Gaza poderia reduzir a tensão no restante da região.
O Irã e seus aliados juraram vingar a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque em 31 de julho em Teerã, atribuído a Israel. No dia anterior, o chefe militar do poderoso movimento libanês Hezbollah também morreu em um bombardeio israelense perto de Beirute.
Teerã sofrerá consequências "catastróficas" caso lance um ataque contra Israel, afirmou um alto funcionário dos Estados Unidos, que pediu anonimato, alertando contra qualquer ação militar que possa "destruir" as negociações.
- "Estão nos matando" -
Netanyahu insiste em que vai prosseguir com a guerra em Gaza até destruir o Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos deste grupo islamista assassinaram 1.198 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Também sequestraram 251 pessoas. O Exército israelense afirma que 111 permanecem em cativeiro em Gaza, mas 39 foram declaradas mortas pelas autoridades do país.
A ofensiva de represália de Israel em Gaza deixou 40.005 mortos, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas desde 2007, que não revela quantos são civis e combatentes.
Na quinta-feira, Israel afirmou que a ofensiva eliminou "mais de 17 mil terroristas".
"Por que Netanyahu enviou uma delegação para as negociações enquanto estão nos matando aqui?", questiona Mohammed al Balwi em meio aos escombros em Jabaliya, no norte de Gaza.
Além de deixar o território em ruínas, o conflito desencadeou uma crise humanitária, com quase todos os 2,4 milhões de habitantes de Gaza deslocados.
O Ministério da Saúde da Autoridade Palestina registrou, nesta sexta, o primeiro caso em 25 anos de poliomielite em Gaza, pouco depois de a ONU pedir "pausas humanitárias" nos combates para vacinar as crianças.
Testemunhas informaram nesta sexta-feira de bombardeios israelenses no centro do território e perto de Khan Yunis, no extremo sul de Gaza.
A guerra em Gaza também intensificou a violência na Cisjordânia ocupada, onde dezenas de colonos judeus israelenses invadiram a localidade palestina de Jit na noite de quinta-feira.
Durante o ataque, eles incendiaram edifícios e veículos e atiraram pedras e coquetéis molotov, segundo o Exército israelense.
De acordo com a Autoridade Palestina, que administra parcialmente o território, um homem de 23 anos morreu ao ser atingido por tiros e outro ficou ferido.
C.Abad--ESF