Hamas nega que acordo com Israel para trégua em Gaza esteja 'próximo'
O movimento islamista palestino Hamas negou neste sábado (17) que um acordo por um cessar-fogo em Gaza esteja "próximo" de ser fechado, após um bombardeio israelense matar 15 membros de uma mesma família, segundo a Defesa Civil do território palestino.
Uma nova rodada de negociações indiretas para um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns israelenses nas mãos do Hamas ocorreu quinta e sexta-feira em Doha, após mais de dez meses de guerra. O encontro contou com uma delegação israelense e representantes dos mediadores Estados Unidos, Catar e Egito.
Ao final da reunião, foi apresentada uma versão revisada do plano divulgado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, em 31 de maio. No entanto, o Hamás, que governa a Faixa de Gaza desde 2007, rejeitou as "novas condições" incluídas na proposta.
Sami Abu Zohri, membro do braço político do movimento islamista, afirmou neste sábado que as negociações eram "a imposição dos ditames americanos" e criticou um "enorme retrocesso".
O Hamas, que não participou das negociações, reivindica a aplicação do plano original, que prevê uma primeira fase de seis semanas de trégua com uma retirada israelense das áreas densamente povoadas de Gaza e uma troca de reféns por prisioneiros palestinos detidos em Israel. Na segunda fase, a proposta inclui uma retirada total das tropas israelenses de Gaza.
Ao retornar das conversas em Doha, os negociadores de Israel expressaram ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, um "otimismo cauteloso" quanto à possibilidade de chegar a um acordo, segundo o gabinete do premiê.
A ofensiva israelense, lançada em Gaza em resposta ao ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro, não deu trégua durante as negociações.
Pelo menos 15 membros da família Ajlah, incluindo três mulheres e nove crianças, morreram neste sábado em um bombardeio em Al Zawaida, no centro do território sitiado, informou a Defesa Civil.
Também houve bombardeios contra prédios residenciais em Khan Yunis, no sul, relataram testemunhas.
- "Ilusão" -
O conflito estourou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram 1.198 pessoas, na maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, de acordo com um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
Das 251 pessoas sequestradas, 111 ainda estão em Gaza, embora 39 tenham sido declaradas mortas pelo Exército israelense.
A ofensiva de retaliação lançada por Israel em Gaza deixou pelo menos 40.074 mortos, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas, que não especifica quantos são civis e quantos são combatentes.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, tem prevista uma viagem a Israel neste sábado para tentar impulsionar um acordo de cessar-fogo.
No entanto, horas antes de sua chegada, um alto funcionário do Hamas chamou de "ilusão" a afirmação do presidente Biden de que tal acordo "nunca esteve tão perto" de ser alcançado.
Os esforços diplomáticos, que continuarão na próxima semana no Cairo, também buscam reduzir a tensão no restante do Oriente Médio.
O Irã e seus aliados, incluindo o Hezbollah, juraram vingar a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque atribuído a Israel em 31 de julho em Teerã, um dia depois da morte do chefe militar do movimento islamista libanês em um bombardeio israelense perto de Beirute.
O Irã enfrentará consequências "catastróficas" se lançar um ataque contra Israel, afirmou na sexta-feira um alto funcionário dos EUA que pediu anonimato.
- Bombardeio no Líbano -
No Líbano, um bombardeio israelense matou dez cidadãos sírios, incluindo uma mulher e seus dois filhos, na região de Nabatieh, no sul do país, anunciou o Ministério da Saúde neste sábado.
O Exército israelense indicou que atingiu à noite "um depósito de armas do Hezbollah", que ataca Israel desde 8 de outubro em apoio ao seu aliado Hamas.
O movimento islamista libanês anunciou depois que disparou baterias de foguetes em direção ao norte de Israel como resposta ao ataque.
Washington acredita que um cessar-fogo em Gaza permitirá evitar uma propagação regional do conflito.
O Hamas, no entanto, acusa Israel de ter adicionado "novas condições" ao texto, entre elas a de "manter as tropas" israelenses ao longo da fronteira de Gaza com o Egito e um "direito de veto" sobre os prisioneiros palestinos suscetíveis de serem trocados por reféns em cativeiro em Gaza.
Benjamin Netanyahu insiste que continuará a guerra até destruir o Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, EUA e União Europeia.
A guerra provocou uma situação humanitária desastrosa no território palestino, onde a maioria dos 2,4 milhões de habitantes foi deslocada.
M.F.Ortiz--ESF