Hamas acusa Israel de não querer alcançar trégua em Gaza
O Hamas afirmou nesta sexta-feira (23) que a insistência do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em manter tropas na fronteira entre o território palestino e o Egito reflete seu desinteresse em alcançar uma trégua nas negociações que ocorrem após dez meses de guerra.
O porta-voz de Netanyahu, Omer Dostri, afirmou na quinta-feira que uma delegação no Cairo, "negocia para avançar em um acordo para libertar os reféns" sequestrados em 7 de outubro durante o ataque do Hamas em Israel que desencadeou a guerra.
O movimento islamista palestino, que governa Gaza desde 2007, não participa desta rodada de negociações indiretas.
Um representante do grupo, Hosam Badran, disse nesta sexta-feira à AFP que a insistência de Netanyahu em manter tropas na fronteira com Egito, em um área denominada "Corredor Filadélfia", reflete "sua rejeição a alcançar um acordo definitivo".
Os países mediadores -- Egito, Estados Unidos e Catar -- há meses tentam alcançar um acordo para acabar com a guerra que devastou o território palestino.
As negociações acontecem depois da nona viagem ao Oriente Médio, desde o início do conflito, do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, que terminou sem nenhum avanço.
Testemunhas relataram nesta sexta-feira intensos combates no norte de Gaza, bombardeios no centro e disparos de tanques no sul deste estreito território com 2,4 milhões de habitantes, 90% deles deslocados ao menos uma vez nestes dez meses, segundo a ONU.
-"Aterrorizados" -
"Os civis estão exaustos e aterrorizados, fogem de um local destruído a outro, sem um fim à vista", condenou na quinta-feira Muhammad Hadi, coordenador humanitário da ONU para os territórios palestinos.
O Exército israelense afirmou nesta sexta-feira ter "eliminado dezenas de terroristas" e "desmantelado dezenas de locais com infraestruturas terroristas" em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, e Deir el Balah, no centro.
A guerra eclodiu em 7 de outubro, quando islamitas mataram 1.199 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais. Entre os mortos, havia mais de 300 soldados.
Eles também fizeram 251 reféns, dos quais 105 permanecem na Faixa de Gaza, incluindo 34 que o Exército declarou mortos.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou uma ofensiva que deixou mais de 40 mil mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território, que não revela quantos são civis ou combatentes.
Washington considera que uma trégua ajudaria a evitar uma conflagração regional, incluindo um possível ataque contra Israel por parte do Irã e seus aliados, em represália ao assassinato do chefe do Hamas em 31 de julho em Teerã, imputado a Israel.
O Hamas, considerado uma organização "terrorista" por Estados Unidos, Israel e União Europeia, exige a aplicação do plano anunciado em 31 de maio pelo presidente americano Joe Biden.
O plano, apresentado pelos EUA como uma proposta de Israel, contempla uma trégua de seis semanas, a retirada de Israel das áreas densamente povoadas e a libertação de reféns.
Em uma segunda fase, o plano prevê a retirada total de Israel do território palestino.
- "Evitar o rearmamento" -
Ao final da viagem, Blinken destacou que Washington se opõe a "uma ocupação a longo prazo de Gaza por Israel". Também garantiu que Israel aceitou o plano e pediu ao Hamas que fizesse o mesmo.
Badran, o representante do Hamas, confirmou nesta sexta-feira que o grupo islamista aceitou o "plano de Biden" originalmente apresentado e apelou a Washington para pressionar Netanyahu.
O Hamas não aceitará "nada menos do que a retirada das forças de ocupação", inclusive do Corredor Filadélfia, na fronteira de Gaza com o Egito, insistiu.
O gabinete de Netanyahu, cuja coligação de extrema direita tem membros que se opõem a uma trégua, negou relatos de que o chefe de governo concordou com a retirada do setor.
Netanyahu considera que o controle da faixa ao longo da fronteira egípcia é necessário para evitar o rearmamento do Hamas.
Após mais de 10 meses de guerra, alguns já não consideram uma trégua algo possível.
"Eu falo com tristeza. Não acredito que acontecerá (...) Todos estão motivados por interesses pessoais, tanto em Israel como em outros locais, e até mesmo entre os mediadores", lamentou Ran Sadeh, um israelense de 57 anos entrevistado pela AFP em Tel Aviv.
R.Salamanca--ESF