Novos bombardeios israelenses no Líbano deixam mais de 100 mortos
O exército israelense realizou novos bombardeios contra o Hezbollah no Líbano, que deixaram mais de 100 mortos neste domingo (29), dois dias depois de ter assassinado o líder do movimento islamista libanês, Hassan Nasrallah, junto com dezenas de outros membros do grupo em outro ataque.
Em outra frente, Israel disse ter atingido alvos dos rebeldes huthis no oeste do Iêmen, depois que esses insurgentes pró-Irã reivindicaram o lançamento de um míssil contra o aeroporto de Tel Aviv.
Esses bombardeios resultaram em quatro mortes, segundo meios de comunicação dos rebeldes iemenitas.
"Nenhum lugar está longe demais" para Israel, advertiu o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, após os bombardeios.
Mantendo a pressão militar contra o Hezbollah, uma formação xiita pró-Irã, o exército israelense indicou que atingiu 120 alvos no Líbano.
Correspondentes da AFP ouviram uma forte explosão e viram colunas de fumaça surgindo dos subúrbios do sul de Beirute, bastião do Hezbollah, onde Nasrallah morreu em um bombardeio israelense que destruiu edifícios inteiros.
O corpo do líder do movimento libanês "foi encontrado no sábado e foi envolto em um sudário", disse uma fonte próxima à organização, acrescentando que ainda não foi marcada a data do funeral.
Em um balanço revisado publicado no final da noite de domingo, o Ministério da Saúde libanês indicou um total de 105 mortos e 359 feridos.
- Guerra total "deve ser evitada" -
O exército israelense afirmou ter matado na sexta-feira, junto com Nasrallah, mais de 20 membros do Hezbollah de diversos escalões presentes no quartel-general subterrâneo situado sob prédios civis.
O Irã informou que um importante comandante da Guarda Revolucionária, o exército ideológico da República Islâmica, também morreu no ataque de sexta-feira. Sua morte "não ficará sem resposta", advertiram as autoridades iranianas.
O Hezbollah, financiado e armado pelo Irã, foi criado em 1982 durante a guerra civil no Líbano, por iniciativa da Guarda Revolucionária do Irã.
A morte de Nasrallah, que era considerado o homem mais poderoso do Líbano, constitui uma grande vitória de Israel frente a seu arqui-inimigo Irã e seus aliados, mas empurra a região para um terreno desconhecido.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou neste domingo que uma guerra total no Oriente Médio "deve ser evitada" e o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, chegou ao Líbano para "conversar com as autoridades locais e fornecer apoio, especialmente humanitário".
Apesar dos incessantes ataques de Israel, o Hezbollah continua lançando foguetes contra o território israelense.
"Temos medo de uma escalada total", disse Matan Sofer, um morador da localidade israelense de Rosh Pina, que fica a 30 km da fronteira com o Líbano.
- "Até um milhão de deslocados" -
Nasrallah, de 64 anos, era venerado entre a comunidade xiita no Líbano. Líder do Hezbollah desde 1992, vivia na clandestinidade há anos e raramente aparecia em público.
Seu primo Hashem Safieddine, figura de destaque do poderoso movimento pró-Irã, é considerado seu possível sucessor.
Ao ser questionado sobre as consequências para os civis dos bombardeios israelenses em Gaza e no Líbano, o papa Francisco respondeu: "Um país que utiliza a força para agir dessa maneira, seja qual for, que age de maneira tão excessiva, [se presta a] ações imorais".
O Irã pediu, por sua vez, uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU para evitar "uma guerra total" na região.
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, indicou que cerca de um milhão de pessoas poderiam ter sido deslocadas pelos ataques israelenses no Líbano.
"Pode ser o maior deslocamento populacional da história do Líbano", declarou.
Segundo a ONU, os bombardeios israelenses obrigaram 50.000 pessoas a fugir do Líbano para a Síria, e mais de 200.000 estão deslocadas dentro do país.
- "Difícil dilema" para o Irã -
A morte de Nasrallah é um duro golpe para o Hezbollah, que precisa decidir se responde e também levanta desafios para o Irã, segundo especialistas.
O assassinato "não mudou o fato de que o Irã segue sem querer se envolver diretamente" no atual conflito, apontou Ali Vaez, do International Crisis group. Mas coloca o Irã diante de um "difícil dilema", acrescentou.
O Hezbollah abriu um frente contra Israel em apoio a seu aliado Hamas na guerra na Faixa de Gaza, desencadeada pelo ataque do movimento palestino em solo israelense em 7 de outubro de 2023.
Após um ano de confrontos transfronteiriços, o exército lançou há quase uma semana uma campanha de bombardeios maciços contra o Hezbollah no Líbano.
Israel afirma que busca restabelecer a segurança no norte do país, alvo dos disparos do Hezbollah, e permitir o retorno de dezenas de milhares de habitantes que fugiram de suas casas.
V.Martin--ESF