Cúpula árabe-muçulmana condiciona paz no Oriente Médio à saída de Israel dos territórios ocupados
Os países árabes e muçulmanos pediram a Israel, nesta segunda-feira (11), que se retire dos territórios que ocupa desde 1967 para alcançar uma paz "global", durante uma cúpula realizada na Arábia Saudita sobre o Oriente Médio, transformado em um barril de pólvora pelas guerras em Gaza e no Líbano.
"Uma paz justa e global (...) não pode ser alcançada sem o fim da ocupação israelense de todos os territórios árabes ocupados" desde junho de 1967 — Cisjordânia e Jerusalém Oriental, Gaza e as Colinas de Golã sírias — declara a declaração final da cúpula.
Essas propostas, lembram, estão alinhadas com a "Iniciativa de Paz Árabe de 2002", que oferecia a Israel a normalização regional em troca da criação de um Estado palestino.
Os participantes da cúpula conjunta em Riade da Liga Árabe e da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) defendem a unidade de todos os territórios palestinos — a Faixa de Gaza e a Cisjordânia ocupada — dentro de um Estado palestino, cuja capital deve ser Jerusalém Oriental, ocupada e anexada por Israel.
Segundo analistas, essa cúpula ofereceu uma oportunidade para que os participantes expusessem suas expectativas sobre o futuro governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que assumirá o cargo em janeiro.
Em seu primeiro mandato (2017-2021), o magnata republicano teve várias iniciativas favoráveis a Israel, como a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.
Ele também contribuiu para a normalização das relações de Israel com Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Marrocos e Sudão, por meio dos Acordos de Abraão. Até então, dos 22 países da Liga Árabe, apenas Egito e Jordânia mantinham relações formais com o Estado israelense.
Porém, o governo de Benjamin Netanyahu, o mais à direita da história de Israel, se opõe à solução de dois Estados — Israel e Palestina —, que coexistiriam com garantias de segurança, uma solução apoiada pela maior parte da comunidade internacional para encerrar décadas de conflito.
Estabelecer um Estado palestino não é "hoje" um projeto "realista", declarou o chanceler israelense, Gideon Saar, em Jerusalém.
"Um Estado palestino (...) será um Estado do Hamas", o movimento islamista que governa Gaza, acrescentou.
- "Crime de genocídio" -
A cúpula árabe-muçulmana condenou o "crime de genocídio" cometido pelo Exército israelense na Faixa de Gaza, "particularmente no norte" do território palestino "nas últimas semanas".
Também exigiu "proibir a exportação ou transferência de armas e munições para Israel" e condenou "os contínuos ataques das autoridades israelenses e seus representantes contra a ONU".
A guerra em Gaza começou em 7 de outubro de 2023, quando combatentes islamistas mataram no sul de Israel 1.206 pessoas, em sua maioria civis, e sequestraram 251, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Dos 251 capturados, cerca de cem continuam em cativeiro no território palestino, mas 34 foram declarados mortos pelo exército.
A campanha militar de represálias de Israel já deixou 43.603 mortos em Gaza, de acordo com dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, denunciou um forte risco de "fome" no norte da Faixa de Gaza e apontou que o termo "limpeza étnica" é cada vez mais usado para descrever a situação nessa área.
Desde 23 de setembro, Israel também conduz uma guerra aberta no Líbano contra o movimento islamista pró-iraniano Hezbollah, que lançava foguetes contra o território israelense desde o início da guerra em Gaza, em apoio ao Hamas.
Os bombardeios israelenses mataram nesta segunda-feira pelo menos sete pessoas, "em sua maioria mulheres e crianças", no sul do Líbano, e ao menos oito em uma aldeia do norte, segundo o Ministério da Saúde libanês.
- Aproximação Irã-Arábia Saudita -
"O mundo está esperando" que o novo governo americano de Donald Trump coloque "imediatamente" um fim às guerras de Israel com o Hamas e Hezbollah, declarou durante a cúpula de Riade o primeiro vice-primeiro-ministro do Irã, Mohammad Reza Aref.
Aref também acusou Israel de ações de "terrorismo organizado", em referência aos assassinatos nos últimos meses do chefe do Hamas, Yahya Sinwar, e de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah.
Também acredita-se que Israel tenha sido o assassinato do ex-líder do Hamas, Ismail Haniyeh em Teerã, na capital iraniana.
O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, disse que Israel deveria "respeitar a soberania territorial" e "se abster de atacar" o Irã.
Esta aproximação "cria um entorno regional muito diferente" ao do primeiro mandato de Trump, lembrou H.A. Hellyer, especialista em segurança internacional do Royal United Services Institute de Londres.
O Irã, um dos principais inimigos de Israel, apoia o Hezbollah, o Hamas e os rebeldes huthis do Iêmen. Riade, por outro lado, trava uma guerra contra os huthis e considera o Hezbollah uma "organização terrorista".
- Hezbollah "preparado" para uma guerra longa -
Os huthis reivindicaram um ataque a uma base militar em Israel, cujo Exército confirmou ter interceptado um míssil do Iêmen.
Grupos iraquianos pró-Irã também reivindicaram ataques de drones contra Israel, que interceptou os aparelhos.
Um dirigente do Hezbollah, Mohamad Afif, disse que seu movimento estava "preparado para uma guerra de longo prazo". Também afirmou que o Exército israelense não ocupa nenhuma cidade no sul do Líbano, onde lançou uma ofensiva terrestre em 30 de setembro.
Na Faixa de Gaza, a Defesa Civil relatou a morte de cinco palestinos em bombardeios israelenses contra uma tenda para pessoas deslocadas em Nuseirat, no centro, e uma casa em Jabaliya, no norte do território.
C.Ferreira--ESF