Modelos relatam 'triste' pressão para permanecerem magras
Maud Le Fort não desfilará nas passarelas da Semana da Moda de Paris, que começa nesta segunda-feira (25), pois privilegiou sua saúde em detrimento de sua carreira como modelo.
Le Fort, que agora tem 30 anos, chegou a Paris com 18 com o sonho de desfilar para as grandes marcas da moda.
Imediatamente foi classificada como "modelo comercial", quando não é considerada magra o suficiente para desfiles de moda sofisticados.
"Tinha 36,6 centímetros de cintura, 85 cm de busto, ou seja, tinha curvas. Em Paris me disseram que eu só faria lingerie e talvez coisas muito comerciais, mas não muita moda", conta ela à AFP.
Mas a modelo se recusou a desistir de seu sonho e se dedicou a emagrecer ainda mais, mas sem fazer exercício físico, já que músculos também não são bem vistos nas passarelas.
"Me pesavam quase todos os dias. E quanto mais peso perdia, mais elogios eu recebia", relembra.
Com 49 quilos e 1,81 m de altura, Le Fort desfilou para a Armani, Balmain, Jean Paul Gaultier e Yohji Yamamoto. Até que se deu conta de que o que fazia não era normal.
"Um dia disse 'chega'. Vou comer e fazer exercícios", disse.
Aos 30 anos, agora faz aulas de teatro e terapia, para recuperar a confiança em si mesma e deixar os anos de depressão e transtornos alimentares para trás.
"Ainda não aceito completamente o meu corpo como ele é. Não tenho uma relação totalmente saudável com a comida", acrescentou ela.
Atualmente, Le Fort faz ensaios fotográficos com uma pressão muito menor. Mas também se incomoda de ver suas fotos sento retocadas, já que considera que isso cria expectativas irreais para as jovens.
"Isso é muito impactante e triste", ressaltou.
- Desmaios -
A modelo brasileira Tatiana (nome fictício para proteger sua identidade) foi demitida de sua agência após cinco anos quando engordou alguns quilos por conta do estresse e um tratamento hormonal que estava fazendo.
"Me demitiram sem avisar. Perder a moda foi muito difícil", disse ela, que trabalhava como modelo desde a adolescência.
Tatiana recorda que já viu "muitas meninas magras desmaiarem durante as provas, elas mal conseguiam andar de salto alto".
Atualmente com 37 anos, ela trabalha como modelo de provas, quando estilistas querem experimentar seus designs em mulheres do mundo real, ao invés do mundo de fantasia das passarelas.
Sophie (nome fictício) é uma estudante de medicina de 22 anos que mora em Paris. Ela também trabalha como modelo comercial e sonha em desfilar nas principais passarelas, mas sabe que tem uma carreira de longo prazo e não está disposta a sacrificar sua saúde.
"A moda não é um ambiente que eu recomendaria a alguém psicologicamente frágil", confessa.
"Se isso fosse tudo que eu fizesse para viver, estaria constantemente preocupada", contou, admitindo que hoje está satisfeita caso não consiga desfilar nas passarelas.
C.Ferreira--ESF