Brigada médica móvel atende crianças traumatizadas pela guerra na Ucrânia
Cerca de vinte profissionais de saúde de uma brigada móvel que visita crianças das zonas rurais da Ucrânia foram mobilizados em uma escola de ensino fundamental de Myrne, a 40 km de Kiev.
Em uma coregrafia bem ensaiada, conduzida pela enfermeira Olga Medvedeva, instalam seus equipamentos no centro escolar enquanto a cantora Sofia Yegorova entretém os jovens pacientes.
O atendimento médico especializado se tornou um desafio na Ucrânia, cujo sistema de saúde foi seriamente afetado pela invasão rusa.
As crianças sofrem. A angústia permanente tem consequências desastrosas para sua saúde mental e física, agravadas pela falta de atenção médica, explica a equipe do hospital pediátrico de Ojmatdit, em Kiev.
Ao percorrer a região, "percebemos que víamos o mesmo em todas as partes", comentou à AFP Medvedeva, de 63 anos.
"A maioria dos casos são transtornos alimentares e psicoemocionais, que juntos provocam uma série de outras doenças", explica.
Sua brigada começou a operar em maio de 2022, pouco depois que as forças ucranianas expulsaram as tropas russas da região.
Desde então, já cumpriu mais de 60 missões, tanto em zonas ocupadas quanto em outras relativamente a salvo, como Myrne.
- "Ansiosas" –
Com a guerra, faltam médicos e sobram pacientes devido ao fluxo de refugiados de de zonas mais expostas aos combates.
Durante a visita da equipe a Myrne, Liudmila Lokha, de 46 anos, chegou com seu filho Timofei, de 7 anos. O menino deixou de comer quando a família partiu para Portugal no início da invasão.
"Quando está preocupado custa a comer", explica Lokha.
Timofei não é um caso isolado. A enfermeira Inna Tachevska afirma que as crianças estão "ansiosas". Sofrem "dores de estômago, de cabeça ou crises de pânico", lamenta.
- "Tudo ficará bem" -
Olga Sudak, uma psicóloga de 29 anos, explica que os médicos e enfermeiros trabalham também com as famílias.
"Quando a família está tranquila, as crianças se sentem muito melhor e se recuperam mais rapidamente", indica.
Também recomenda que os pais respondam às perguntas dos filhos sobre a guerra.
Porém, ao ouvir seu avô Serguii Vida falar sobre a invasão, Milana, de 8 anos, se encolhe.
"A guerra é morte, mutilação, destruição", declarou o homem que combateu no primeiro ano do conflito e foi desmobilizado.
Milana, afirma que sente "uma mistura de raiva e alegria".
Apesar dos traumas, Olga Medvedeva acredita que as crianças vão superar o "intenso estresse" da guerra. "Mas temos que mostrar que tudo vai ficar bem", adverte.
Ante a perspectiva de uma guerra prolongada, os médicos ucranianos têm uma grande tarefa pela frente.
"Enquanto houver guerra enfrentaremos todos estes problemas", afirma Medvedeva.
"Até que as sirenes deixem de tocar, o transporte funcione normalmente e as pessoas estejam tranquilas", conclui.
A.Fernández--ESF