El Siglo Futuro - Unicef alerta sobre vulnerabilidade extrema das crianças na Faixa de Gaza

Madrid -
Unicef alerta sobre vulnerabilidade extrema das crianças na Faixa de Gaza
Unicef alerta sobre vulnerabilidade extrema das crianças na Faixa de Gaza / foto: © AFP

Unicef alerta sobre vulnerabilidade extrema das crianças na Faixa de Gaza

As crianças de Gaza estão em uma situação de vulnerabilidade extrema, alertou Jonathan Crickx, porta-voz do Unicef nos Territórios Palestinos, após retornar de uma missão na Faixa, onde Hamas e Israel estão em guerra há quase um ano.

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O Exército israelense bombardeou o território palestino três ou quatro vezes na madrugada desta segunda-feira (30), segundo jornalistas da AFP. No entanto, o número de ataques aéreos diminuiu notavelmente nos últimos dias, à medida que Israel intensifica a pressão militar sobre o movimento libanês Hezbollah em sua fronteira norte.

P: O que te impactou na Faixa de Gaza?

Jonathan Crickx: "Vemos crianças por toda parte, já que não estão na escola e precisam contribuir para as necessidades de subsistência de suas famílias. Muitas carregam galões amarelos de plástico sujos, às vezes de 25 litros. Vi até uma criança empurrando um em uma cadeira de rodas quebrada. Elas tentam levar água para suas casas, já que o acesso à água continua sendo um grande problema. Também há muitas crianças procurando comida.

Observamos algo nunca visto antes da guerra: crianças muito pequenas, de cinco ou seis anos, caminhando entre enormes montes de lixo, tentando recuperar o que puderem, especialmente papelão para fazer fogo e cozinhar. Em resumo, vemos crianças que não têm uma vida normal, o que é muito preocupante para o futuro delas.

Também notei que seus rostos estão muito fechados, muito tristes, não sorriem. Estão profundamente afetadas pela violência, pela intensidade dos bombardeios e pela insegurança que sofreram durante o último ano.

P: Que tipo de interações teve com as crianças?

R: Conheci uma criança de 10 anos chamada Ahmad. Primeiro ele me perguntou de onde eu vinha, e eu respondi que da Bélgica. Então ele mencionou Eden Hazard e Thibaut Courtois, e falamos sobre futebol (referindo-se a jogadores belgas).

Mas rapidamente começou a falar sobre sua família. Seus pais e irmãos estão vivos e todos estão em um campo em Khan Yunis. Depois, ele explicou como viu seu tio morrer. Contou coisas que uma criança de 10 anos não deveria contar, como que o corpo estava em pedaços e a cabeça estava muito longe.

É extremamente difícil ouvir isso de uma criança de 10 anos. No final, ele me perguntou quando eu voltaria para a Bélgica e se poderia ir comigo, repetindo "sair, sair".

P: Como sobrevivem as crianças?

R: Muitas perderam um membro da família, às vezes um dos pais, às vezes ambos. É muito difícil obter números exatos, mas encontramos muitas crianças nessas situações. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que há 19.000 crianças não acompanhadas ou separadas de seus pais.

A situação das escolas é um completo desastre. 85% dos edifícios escolares estão destruídos. Nenhuma criança em idade escolar assistiu às aulas nos últimos 12 meses.

O que realmente impressiona é que as crianças querem ir à escola, brincar com seus amigos, ver seus professores e aprender. Por quê? Porque a educação traz esperança, e neste momento, as crianças de Gaza não têm essa esperança.

P: Quais são os riscos à saúde?

R: A grande aglomeração, a alta densidade populacional, as condições de higiene extremamente ruins, as altas temperaturas e o acesso limitado a banheiros são a fórmula perfeita para o surgimento de doenças, especialmente entre as crianças.

Muitas ficam doentes e precisam de tratamento, mas a maioria dos hospitais não funciona, e os que estão abertos estão saturados. Portanto, muitas vezes há atrasos no tratamento dessas doenças que afetam as crianças.

Também no norte, no hospital Kamal Adwan, conhecemos quatro crianças com câncer, leucemia ou problemas cardíacos. Elas precisam de evacuação médica imediata, caso contrário não sobreviverão. Devem ser tratadas fora da Faixa de Gaza, já que não é possível tratá-las adequadamente lá."

I.Santos--ESF