Líderes pedem 'transformação' das finanças mundiais em cúpula sobre o clima
Líderes de todo o mundo defenderam nesta quinta-feira (22), em Paris, uma "transformação" do sistema financeiro que permita aos países em desenvolvimento evitar o dilema de custear a luta contra a pobreza ou as mudanças climáticas.
“A crise climática implica um grande plano Marshall global de investimentos", baseado em taxar as transações financeiras e "trocar dívida por ação climática", sugeriu o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que, juntamente com outros 40 líderes, entre eles o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, discutem até amanhã em Paris como promover um novo paradigma financeiro internacional.
"Nenhum país deve ter que escolher entre reduzir a pobreza e proteger o planeta", declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, no discurso de abertura do encontro, no qual defendeu um "choque de financiamento público" e mais investimentos privados.
O objetivo do evento é revisar a arquitetura financeira internacional, que nasceu com os acordos de Bretton Woods em 1944, quando a prioridade era reconstruir a Europa, para adaptá-la aos desafios do século XXI, como as mudanças climáticas.
A ideia foi apresentada no fim de 2022, na reunião de cúpula do clima COP27, pela primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, que exigiu hoje uma "transformação absoluta", e não apenas "uma reforma".
Os países em desenvolvimento consideram difícil obter acesso aos financiamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM), dos quais necessitam para enfrentar ondas de calor, secas e inundações, e para combater a pobreza.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, afirmou que as coisas já começaram a mudar e que a organização conseguiu redistribuir os 100 bilhões de dólares (480 bilhões de reais) de direitos especiais de saque prometidos aos países pobres para o desenvolvimento e a transição climática.
Aos pés da Torre Eiffel, em um ato que antecedeu um show por ocasião da reunião de cúpula, Lula enfatizou que "quem poluiu o planeta nestes últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial, por isso têm que pagar sua dívida histórica com o planeta Terra". O brasileiro enfatizou "a responsabilidade dos países ricos de financiar os países em desenvolvimento que têm reservas florestais", indispensáveis para enfrentar o aquecimento global.
- Roteiro -
O objetivo da reunião de cúpula é ambicioso: criar musculatura financeira para enfrentar três crises interconectadas, a luta contra a pobreza, a descarbonização da economia e a proteção da biodiversidade, de acordo com Macron.
Embora o encontro busque traçar um roteiro para outras reuniões internacionais, já existem ideias sobre a mesa, que incluem a ampliação da capacidade de empréstimo do FMI e dos bancos regionais de desenvolvimento, assim como o alívio da dívida dos países mais vulneráveis.
A França quer dar "um impulso político" à ideia de uma taxa mundial sobre as emissões de carbono do comércio marítimo. O Banco Mundial irá ampliar sua capacidade de ajuda internacional com novas "ferramentas", como "oferecer uma pausa no pagamento da dívida em caso de catástrofes, anunciou seu presidente, Ajay Banga.
Como exemplo desta conscientização, um grupo de países ricos e de bancos de desenvolvimento se comprometeu a mobilizar 2,7 bilhões de dólares (13 bilhões de reais) para ajudar o Senegal a reduzir sua dependência das energias fósseis. E os países credores da Zâmbia concordaram em reestruturar 6,3 bilhões de dólares (30 bilhões de reais) da dívida do país africano, que decretou moratória em 2020.
- Show pelo planeta -
Os países em desenvolvimento costumam criticar as nações ricas por alegarem que não têm recursos para ajudar no combate às mudanças climáticas e à pobreza ao mesmo tempo que apoiam a Ucrânia em sua guerra e resgatam bancos americanos.
A pressão da sociedade civil também foi sentida em Paris, onde jovens ativistas ambientalistas, como a sueca Greta Thunberg e a equatoriana Helena Gualinga, participaram de um debate sobre o "poder do ativismo", no Teatro de Chatelet. Greta expressou ceticismo sobre o efeito da reunião de cúpula. "O planeta não está morrendo, está sendo morto, e nós sabemos quem são as pessoas que o estão matando."
O show aos pés da Torre Eiffel contou com os artistas Billie Eilish, Lenny Kravitz e Jon Batiste. O primeiro dia de cúpula foi encerrado com um jantar no Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa.
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M.Ortega--ESF